Contra a depressão econômica, Frente defende soberania nacional

Um dos propósitos da plenária da Frente Brasil Popular é reorganizar suas estratégias de luta a partir de uma análise aprofundada da conjuntura econômica nacional e mundial. Para ajudar nisso, o economista Marcio Pochmann foi convidado a participar da mesa de abertura na quarta (7/12). Ele traz a leitura de que a economia caminha para uma depressão, situação que resulta da recessão econômica aliada a medidas neoliberais de ajuste fiscal, e que “não à depressão” deveria ser a bandeira prioritária neste momento

Hoje: transnacionais mais fortes que países

“A segunda onda de globalização capitalista, que está se consolidando desde os anos 70, tornou a política irrelevante ao enfraquecer os Estados perante as empresas multinacionais”, começa o economista. Diferentemente da primeira onda capitalista do fim do século 19, que acabou com a descolonização e a queda dos impérios e o consequente fortalecimento de Estados soberanos que consolidaram suas políticas públicas nacionais, a segunda onda se caracteriza por uma autonomização do mercado privado em relação à regulação estatal. Até então, os Estados tinham poder suficiente para subordinar as empresas às regras fiscais de redistribuição e princípios éticos mínimos de responsabilidade social.

Como a concentração do capital ao nível mundial, essa relação de força acabou se invertendo colocando por sua vez os Estados em posição de subordinação. “Hoje grandes corporações transnacionais não são mais modelos de progresso, mas de retrocesso. Elas se instalam onde as leis são mais flexíveis, onde se paga menos impostos, onde as leis trabalhistas são mais fracas” continua Pochmann. Tal comportamento obriga os Estados a entrar numa competição perversa de desregulação de suas próprias legislações para não perder investimentos privados, em detrimento do bem estar da população.

Esse fenômeno não ocorre só no Brasil, mas se manifesta mundialmente. O economista cita o exemplo do presidente socialista da França, François Hollande, que após sua eleição em 2012 não conseguiu implementar seu programa progressista de consolidação do sistema de previdência social por causa de conflitos de interesses com o mercado financeiro europeu e internacional contrário à redução de suas margens de lucro. Hoje algumas empresas transnacionais tem mais poder que alguns Estados. Só 9 países no mundo tem um faturamento maior que as 4 maiores corporações internacionais, afirma o palestrante.

Da recessão à depressão

Como outros Estados no mundo, o Brasil se inseriu nessa segunda onda de globalização capitalista de forma passiva para continuar a ter acesso aos fluxos financeiros internacionais. Diferentemente da China que aproveitou esses investimentos para desenvolver sua produção nacional, o Brasil se isolou numa política de juros sempre mais altos para manter contexto atrativo para investimentos internacionais, o que prejudicou sua capacidade de exportação. Outra medida nefasta tomada durante o plano Real foi a privatização das empresas estatais entregues à preço de banana para o mercado internacional.

Continuando sua exposição Pochmann, assinala que essa política nacional econômica teve como efeitos concretos a queda da produção industrial no país, que se acentuou ainda mais depois da crise de 2008. “Hoje a indústria representa só 8% do PIB. Em poucos anos o Estado de São Paulo, polo industrial do país, perdeu 400 mil empregos e mais 150 mil devem desaparecer ainda ano que vem. Isso não se chama mais recessão, mas depressão” explica o economista.

A partir de 2011 os efeitos da crise mundial se conjugaram com uma mudança da política econômica do país, que priorizou a redução do custo do trabalho para as empresas, no intuito da preservação das margens de lucro. Essas políticas se enquadram na linha do ajuste fiscal promovido pela agenda neoliberal das transnacionais. Com o pretexto da saída da crise, tais políticas visam desmontar o sistema estatal de regulação e proteção social para facilitar o mercado privado no país.

Pochmann propõe estratégia econômica para a esquerda

A urgência em sair da crise econômica foi um dos argumentos principais alegados pela direita para destituir Dilma Rousseff. Portanto o governo Temer se orienta no sentido oposto de agravação e perenizarão da conjuntura de depressão com a PEC 55 do teto de gasto e as privatizações. Pochmann alerta : ”trata-se de uma agenda extremamente nefasta que não tem cabimento para sociedade do trabalho e vai trazer muita precarização”.

Ao concluir sua intervenção o economista chama as entidades a levantar a bandeira do “não à depressão”. “Está na hora de trabalhar um programa econômico focado na soberania nacional e na consolidação do mercado interno. Precisamos retomar nossa industrialização e iniciar uma transição ecológica inovadora que traga novos mercados de trabalho para o país”, conclui.

Por Rafaella Dotta, [08.12.16 16:22]
Contra a depressão econômica, Frente defende soberania nacional

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Foto: Lidyane Ponciano/Sind-UTE MG e CUT Minas

Por Florence Poznanski – FBP

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