Diretor técnico do Dieese faz propostas para processo eleitoral, projeto de desenvolvimento e práticas sindicais

Clemente Ganz Lúcio defende maior articulação política e luta pela organização por local de trabalho na 13ª Plenária Estatutária da CUT/MG

A terceira mesa do primeiro dia da 13ª Plenária Estatutária da CUT/MG, com a análise de conjuntura do diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos  (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, foi também composta pela secretária de Políticas Sociais da CUT/MG, Lourdes Aparecida de Jesus Vasconcelos; pelo secretário de Meio Ambiente da Central, José Maria dos Santos, e pela representante da CUT Regional Zona da Mata e diretoria do Sindicato dos Professores de Juiz de Fora, Ana Carolina Mayer.

Para Clemente Ganz, os temas avançar na luta e “Outra Minas é possível” não são coerentes com aquilo que acontece no mundo. “Vivemos num contexto diferente. Se fosse na Espanha, a discussão seria sobre o desemprego, a crise financeira. Recentemente, dirigentes sindicais de outros países disseram que o Brasil é a esperança. O Brasil conseguiu reorientar sua conjuntura econômica, sustentada pela expansão do emprego, distribuição de renda e aumento do consumo. Até 2002, o Brasil tinha 157 escolas técnicas federais. De 2004 para cá foram construídas 600 escolas técnicas, três vezes mais do que até 2002. A maioria no Norte e no Nordeste. Oitenta por cento dos alunos  já entram na escola com oportunidade de emprego. Em 1997, no governo de Fernando Henrique proibiu a criação de novas escolas técnicas.  Desemprego é coisa do passado. Em 2004, tínhamos 22 milhões de trabalhadores com carteira de trabalho assinada, hoje são 50 milhões.”

“Já foi parte de nossa história que o salário mínimo não podia crescer. Houve a política de valorização que se transformou em lei. A inflação não subiu, não houve crescimento da informalidade e o número de carteiras assinadas aumentou.  As centrais sindicais construíram um movimento e apresentaram ao governo lula uma proposta de valorização do salário mínimo. Fecharam um acordo que virou lei, saímos de US$ 120 e ultrapassamos o salário mínimo em US$ 300. O salário mínimo foi teve 75% de reajuste acima da inflação. Passou a ter um mercado de consumidor interno que carregou o desenvolvimento do país. Temos um governo maluco que mandou a população consumir.  Implantou uma política econômica que distribuiu emprego, renda e enfrentou a crise”, afirmou o coordenador  técnico do Dieese.

De acordo com Clemente Ganz, temos um “problemaço para o futuro”. “Esta crise, como prevíamos, é longa, e a saída exigirá um custo social muito alto e reorganizará as economias. Países em desenvolvimento estão em dificuldades países. Trazer de 40 a 50 milhões de brasileiros para o consumo, transferência de renda, valorização do salário mínimo. O que fizemos até agora não dá para repetir. Precisamos fazer um incremento dos salários. Este incremento deve ser do valor do que produzimos. O Brasil é um principais produtores mundiais do alimento,  o que é importante para segurança politica e alimentar. Até 2000 entre os países que se comercializavam entre si, reuniram massa de assalariados da ordem de 1 bilhão. Com o crescimento da economia da China, da Índia e da Rússia, hoje são 3 bilhões de assalariados. A segurança alimentar se tornou estratégica, com o aumento do consumo. Quem produz suco de laranja ganha mais do que quem produz laranja. O Brasil que a gente quer detém a tecnologia, produz laranja, produz o suco, produz a vitamina C. Nos anos 90, diziam o Brasil tem que se adequar as suas vocações. Temos que dizer não, ter produção forte, indústria forte para produzir para o mundo. “

“Somos o país campeão na exportação de minério de ferro, mas importamos trilho de trem da China e de Taiwan. Eles usinam o minério e produzem trilho de trem. Temos que extrair o minério,  produzir o trilho, produzir o trem.  Temos alta competência para processar o minério e não produzimos trilho de trem.  Para sustentar o nosso desenvolvimento com política industrial, precisamos de capital, do setor privado e do governo. Precisamos colocar o recurso do capital privado no investimento. A política econômica para construir um processo para alocação dos recursos”, acrescentou Clemente Ganz.

O diretor técnico do Dieese considera  fundamental, para garantir o desenvolvimento econômico, que os trabalhadores estejam no centro do processo. “Grande parte da riqueza está nas mãos dos banqueiros, dos  latifundiários, dos industriais. Nós trabalhadores temos um patrimônio da ordem de R$ 500 bilhões com os fundos de  pensão e dirigentes nos conselhos destes fundos. Temos que mobilizar os recursos. Nosso desafio é construir um arranjo de estratégia econômica, um arranjo político. Como se faz isto. Nós vamos construir este arranjo fazendo algumas coisas, uma delas é organizar politicamente a nossa sociedade com base na democracia. Democracia é trazer o voto de cada trabalhador para o projeto que queremos fazer.  Este é um ano de escolhas. A outra tarefa é continuar na nossa luta. A sociedade escolhe e o movimento sindical  vai interagir. Temos que saber apresentar a nossa proposta, se o governo se dispor a negociar. Estamos nos relacionando com o processo de desenvolvimento como nos relacionamos com o patrão. O projeto de desenvolvimento é nosso, nós temos que estar no centro do projeto e não pedindo contrapartidas.  Precisamos de uma organização muito forte, articular um leque de alianças muito forte”,

Clemente Ganz Lúcio  afirmou, ainda, que o movimento sindical precisa se concentrar no processo eleitoral e na luta pela organização no local de trabalho. “Nós vamos mudanças com este Congresso. Neste processo eleitoral quem financia as campanhas são as empresas. Nosso contraponto mínimo é a capacidade de mobilização. E, depois das eleições, ainda enfrentaremos a luta contra a terceirização, pois as pressões devem voltar.  Por fim, se nós vamos construir estas mudanças, temos que ter capacidade de negociar.  Sem a organização por local de trabalho não há possibilidade de termos luta forte. A organização por local de trabalho é a porta de entrada para que o trabalhador experimente a luta, o embate. Se não tiver força, o patrão passa por cima. É também uma experiência para abrir o diálogo com a juventude. O número de trabalhadores no comércio subiu de 4,5 milhões para 10 milhões e , 60% têm menos de 30 anos.  A organização sindical no local de trabalho é a base para organizar as nossas lutas”, concluiu o diretor técnico do Dieese.

(Site CUT/MG – 17.05.14 – Rogério Hilário)

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