Federação de Ferroviários extinta pela ditadura é reconhecida pelo Ministério do Trabalho

Entidade resgatada em 2010 é reconhecida em fevereiro e realiza primeiro congresso em maio de 2014

A Federação Interestadual de Trabalhadores Ferroviários (FITF) teve sua Carta Sindical expedida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) no início de fevereiro. O processo de reconhecimento estava em curso desde 2010.

A Carta legitima a atuação da entidade na luta pelos direitos dos trabalhadores e por políticas públicas de transportes de cargas e pessoas, além de resgatar a Federação Nacional dos Trabalhadores Ferroviários, que sofreu intervenção da ditadura militar pós 1964. Para Jeronimo Miranda Netto, coordenador geral da FITF, a Federação é histórica e está sendo reconhecida em um momento importante no cenário político nacional.

“O retorno de uma Federação da categoria é uma luta de lideranças nacionais há tempos. Nós, ferroviários, tivemos uma Federação no período democrático anterior ao golpe de 1964. De lá para cá, ficamos não legalizados. Agora, levando em consideração o desenvolvimento econômico do País e os investimentos públicos no setor, a categoria adquire uma importância ainda maior do que naquela época e assume um papel fundamental na discussão de transportes”, afirma o dirigente.

O coordenador da entidade destaca, ainda, o apoio da CUT Nacional para a construção e reconhecimento da FITF. Para ele, a Central sabe da importância histórica das ferrovias para a economia brasileira e dos ferroviários na luta pela Democracia. A CUT deu todo o apoio necessário para a consolidação da entidade.

Secretário-Adjunto da Saúde do Trabalhador da CUT e vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes (CNTT), Eduardo Guterra destaca a importância da existência da Federação para o Brasil. “Temos articulado o trabalho junto ao macrossetor de logística da CUT [instância de articulação junto às Confederações, aprimorando as ações de base] e junto à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes desde 2010. A existência da Federação fortalece nossa luta em defesa dos trabalhadores da área, nossa discussão sobre a multimodalidade e influencia até mesmo na qualidade de vida da população e na economia brasileira”, comemora o sindicalista.

Congresso Nacional da Federação – A categoria, segundo o coordenador geral da Federação, Jeronimo Miranda Netto, sentia a necessidade de aprimorar a organização dos trabalhadores com a criação da entidade. “A FITF representará 70% dos trabalhadores do setor e, como somos reconhecidos, temos compromisso político com todos os nossos sindicatos, com a CUT e com a CNTT, lutando pelos direitos dos trabalhadores e por uma proposta política para o papel do transporte de cargas e pessoas no Brasil”, salienta.

Para estabelecer qual será a proposta política da Federação Interestadual de Trabalhadores Ferroviários, a entidade realizará seu primeiro Congresso Nacional nos dias 9 e 10 de maio, em Salvador. Na ocasião também será eleita a direção nacional e estabelecidos eixos de atuação da entidade.

Ferrovias e Economia – Para o coordenador, a preferência por um modelo de transportes baseado em rodovias e a privatização do setor ferroviário após a década de 90 deixou no imaginário popular a ideia de investimento em ferrovias como uma questão de segundo plano. O dirigente ressalta que a nova Federação tem oportunidade de trazer o tema para o centro do debate.

“A malha ferroviária foi historicamente deixada em segundo plano nas discussões sobre transportes. Mas, como o Brasil se desenvolveu economicamente, foi necessário rediscutir os modais de transporte para o País, incluindo as ferrovias. É um transporte por terra que faz ligação entre enormes distâncias por um custo menor, com menos poluição e com alta capacidade de carga. Necessita de investimentos.”, afirma Jeronimo.

Para Guterra, “o grande problema do Brasil é a falta do crescimento equilibrado da malha de transportes. Então, cada vez que os trabalhadores conseguem se organizar em um determinado modal, seja ferroviário, rodoviário ou aeroviário, conseguem tratar de termos imprescindíveis do setor de mobilidade, tanto de cargas quanto de passageiros, impactando na economia e, também, na qualidade de vida do ser humano”.

O sindicalista também concorda com as vantagens das ferrovias apontadas por Jeronimo, mas destaca que “a pouca extensão da malha ferroviária acaba deixando subutilizada a capacidade de transporte de cargas que poderia ter”.

Desenvolvimento no Brasil – O Brasil conta com projetos de investimento em ferrovias garantidos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas, segundo o coordenador da Federação, ainda há problemas. Jeronimo critica, por exemplo, empresários que exigem construção de ferrovias por parte do governo, desde que as entregue para operadoras privadas. O dirigente ainda destaca o foco de lutas da Federação.

“A nossa Federação vê a importância da ferrovia para o desenvolvimento do País e vem para discutir o assunto em todas as esferas, lembrando que o nosso foco principal é a qualidade de vida das pessoas. Isso se traduz de várias maneiras, incluindo melhores condições de trabalho. Quando pensamos em Brasil, vemos que se esquece da má qualidade de vida no setor ferroviário. Nós lutaremos por condições dignas de trabalho e de vida”, aponta o coordenador.

(Site CUT Nacional – 07.03.14 – Henri Chevalier)

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