Municipalização

Municipalização é mais uma trapaça do governo para se livrar da educação

Zema promete Mãos Dadas, mas na verdade quer lavar as mãos ao entregar educação dos anos iniciais aos municípios, como no caso de Sericita

O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) participa em Sericita (cidade com uma população de 7.345 habitantes, localizada na Zona da Mata), do debate sobre o processo de municipalização da Escola Estadual Clélia Bernardes, onde o governo Zema quer transferir ao município 422 alunos da rede estadual. A municipalização também foi tema de Audiência Pública realizada na Assembleia Legislativa, quando foram apontadas supostas irregularidades e falta de transparência no processo de municipalização da escola.

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PROBLEMA PARA O FUTURO
Para o Sind-UTE, a municipalização através do projeto Mãos Dadas, é mais uma forma do governo estadual transferir sua responsabilidade com a educação pública a outro ente da federação, através de um processo obscuro.

“O que está acontecendo em Minas Gerais é o futuro da educação pública sem planejamento. Ao que parece as Prefeituras deixarão esse problema para os próximos gestores e estão aceitando esses recursos de forma ‘eleitoreira’, para apenas fazerem obras no município”, pontua estudo do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócioeconômicas (Dieese), Subseção Sind-UTE/MG.

QUEDA NA QUALIDADE
O orçamento do ensino fundamental deverá aumentar em cerca de 46% para manter o mesmo nível de investimento com a municipalização.

“Ao municipalizar – aponta o estudo –, para cada aluno que ingressar na rede municipal, a Prefeitura deverá manter, no mínimo, o atual valor de investimento, caso contrário, com a redução de investimentos, não haverá garantia que o padrão da qualidade de ensino seja mantido e, provavelmente, diminuirá”.

Conforme os estudos feitos pelo DIESSE para o Sind-UTE/MG, aderindo ao Projeto Mãos Dadas, com a Prefeitura investindo apenas os recursos legais a serem transferidos pelo Governo do Estado (Fundeb, PNAE e Salário-educação), sem aportar mais recursos próprios, o valor per capita será de R$ 12.115,17, ou seja, haverá uma redução de 25% no investimento médio da Prefeitura, nos anos iniciais, e com isso, algum Projeto/Ação do Orçamento Municipal da educação será reduzido.

O Sind-UTE/MG avalia que não adianta municipalizar e não se preocupar com os investimentos na educação infantil. Logo, para municipalizar e ao mesmo tempo cumprir as metas de atendimento do Plano Nacional da Educação (PNE) para a educação infantil, o investimento total necessário, em Sericita, além do que é investido, será de R$ 4.204.700,68, caso mantenha a diferença entre o valor por aluno do ensino fundamental e da educação infantil.

Caso o valor por aluno seja o mesmo para ambas etapas de ensino, o investimento adicional para municipalizar e atender as metas do PNE será de R$ 5.087.609,64.

RECURSOS PRÓPRIOS
“É importante considerar o investimento com recursos próprios da Prefeitura nos anos iniciais do ensino fundamental, pois o financiamento da educação não se dá apenas através de transferências legais e constitucionais de recursos”, salienta o estudo.
Em 2024, dos R$ 7,8 milhões investidos no ensino fundamental, 34% (R$ 2,6 milhões) foram com recursos próprios, 57% (R$ 4,4 milhões) com recursos do Fundeb e 9% (R$ 732 mil) com diversas fontes de transferência de recursos. Comparando apenas com o Fundeb, a Prefeitura de Sericita desembolsou de recursos próprios, quase 50% do valor do Fundeb.

PROJETO DE ERROS
Conforme o DIEESE, o Projeto de Lei nº 12/25 de autoria do Poder Executivo Municipal aderindo ao projeto Mãos Dadas, o último depois de vários PLs encaminhados à Câmara Municipal com erros, não contém nenhum planejamento econômico-financeiro e orçamentário sobre o impacto da adesão ao Projeto Mãos Dadas, ou seja, a Prefeitura pretende aderir ao Projeto, possivelmente apenas pelo dinheiro oferecido pela Governo do Estado, sem nenhuma preocupação com o futuro da educação municipal de Sericita.

RECOMENDAÇÕES
O Sind-UTE avalia que, no caso de Sericita, a Prefeitura deveria se preocupar com o futuro da educação municipal, uma vez que Tribunal de Contas do Estado no Processo nº 1.148.432 relativo à Prestação de Contas de 2022 (de 2023 em diante o Parecer ainda não foi emitido), informa que, da população de 228 crianças entre 4 a 5 anos de idade, 183 foram matriculadas, evidenciando o cumprimento de apenas 80,26% da referida Meta (em 2023 está em 100%). Ainda conforme o TCE, da população de 413 crianças entre 0 a 3 anos de idade, 101 foram matriculadas, perfazendo o percentual de 24,46% do contingente (em 2023 está em 27,43%). O TCE ainda recomenda que, como o prazo final para cumprimento desta Meta era 2024, o Executivo deveria agilizar as providências destinadas à efetivação das matrículas das crianças desta faixa etária.

PISO SALARIAL
Outro alerta feito órgão de controle era que o valor pago aos Profissionais da Educação Básica (creche, pré-escola e anos iniciais do Ensino Fundamental) não observava o Piso Salarial Nacional Segundo dados do Siope de fevereiro de 2025, a média do vencimento básico para os profissionais do magistério da rede municipal é de R$ 2.326,68, para uma jornada média de 27 horas semanais. O PSPN proporcional em 2025 é R$ 3.285,74.
“Recomendo ao atual Prefeito Municipal de Sericita que adote providências no sentido de que seja respeitado o Piso Nacional da Educação Básica para o pagamento dos respectivos profissionais, objetivando o cumprimento da Meta 18 do PNE”, anota o TCE.

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