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Pensamentos esparsos

  • 29/07/2015


Madrugada. Em duas horas, o sol se apresentará para encaminhar a noite, colocando-a para descansar, em um vigoroso gentil espetáculo de larga beleza. Ainda no escuro da noite, a natureza silencia à espera da troca. Quando finalmente o dia rende a noite, o silêncio explode em um vibrante espetáculo de luz e som.

Hoje, como ontem, ainda dominado pela noite, meu dia começa cedo. Já no carro que me leva ao destino longínquo, a notícia me faz pensar durante as horas da viagem. Um jovem faz a seguinte declaração ao repórter: “Não aceito traição!”

Simples, não? Claro, pois as pessoas não gostam de ser enganadas nem gostam de alguém que não cumpre acordos ou compromissos, ou de quem entrega por traição.

Na sequência, o repórter completa a notícia: o rapaz, de 19 anos, desconfiado de que a namorada, de 16, o traía, convidou a jovem para sua casa e, com uma faca, matou-a. Na sequência, a esquartejou.

Lembrei-me daquele pensamento que diz: por trás de problemas complexos, há soluções simples, infelizmente erradas ou equivocadas. A racionalidade desse jovem é de uma estúpida irracionalidade ou a irracionalidade desse jovem representa a ignorância da nossa estúpida racionalidade?

O silêncio da madrugada me oprimia e eu queria expirar até que nada mais restasse além da energia original.

Quilômetros deixam paisagens. Racionalidades! Lembrei-me do jogador do meu time que, depois da quinta derrota seguida e, com a tatuagem “Deus é fiel” inscrita no braço, não ofereceu ao seu deus aquela derrota. Sim, porque há alguns meses, esse mesmo jogador dizia ao repórter que deus era responsável pela vitória do time. Chama-me a atenção que os goleadores remetem ao céu o feito, ajoelhando-se, elevando as mãos ao alto ou mostrando a tatuagem. Interessante que o goleiro vazado não tenha naquele instante o mesmo gesto. Pelo jeito, deus tem um lado, o lado do vitorioso!

O que diria a jovem esquartejada? O que pensa o goleiro vazado?

Ainda fresca na memória, a conversa que tive no dia anterior fez-se presente. Disse-me uma amiga, depois de uma palestra que eu fizera: “Na medida em que você fala, meu peito vai contraindo e vou ficando agoniada, porque é tudo verdade, é tudo muito duro e é assim mesmo. Mas nós temos que ter saída! Você é muito pessimista!”

Na subida da serra, Saramago me faz companhia, dizendo-me na memória: “A doença mortal do homem como homem é o egoísmo”. Pessimista? Ele respondia: “Meu olhar é pessimista, mas esse é o olhar de quem quer mudar o mundo” (2001). Em 2005, ele avançou: “Ultimamente, gosto de dizer outra coisa: eu não sou pessimista, o mundo é que é péssimo”.

Imagino-me em 1880, no balneário de Ramsgate, Inglaterra, em agosto. Conta Mary Gabriel que Karl Marx e família ali estavam e, “de forma surpreendente, Marx convidou John Swinton, um jornalista reformista liberal de Nova York para visitá-lo… Swinton diria que ficara aguardando a tarde inteira o momento de fazer uma pergunta a Marx sobre o que o jornalista chamou de “a lei definitiva do ser”. Por fim, surgiu uma oportunidade e ele perguntou: “E qual é essa lei?” Marx olhou para o mar agitado e a multidão na praia e respondeu: “A luta!”

Chego ao meu destino, diferente.

Clemente Ganz Lúcio

[1] Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.



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