Precisamos tirar lição do que passou, diz Walter Sorrentino

Vivemos a implementação de nova ordem política cultural que leva ao desmanche da Constituição de 1988, a norma democrática, os direitos e deveres do cidadão e o próprio pacto federativo.

Um poder paralelo está se instituindo no seio do Estado de direito e atua com os aparatos burocráticos do Estado brasileiro que se chocam com o próprio sistema político. Esse é o perigo imediato e maior, apoiado e sustentado pela Lava Jato, Globo e uma base social de direita e extrema-direita. Esse é o caminho do fascismo. Esse é o perigo principal que atinge a democracia.

Dentro dessa realidade o governo Temer já se entregou, procura apenas se preservar, às forças da Lava jato e da Globo. Temer pode cair, dando margem a eleições indiretas, ou ficar como governo Sarney: em crise, chantageado e chantageando, entregando muito menos do que promete e agravando a crise econômica e social.

O quadro é de imprevisibilidade e incertezas.

As nossas e as organizações que representamos hoje, sozinhas, são insuficientes.

Nesse quadro se inscreve o tema da organização da FBP. A organização é sempre uma questão política. Nos organizamos para implementar uma política, uma política de resistência. O balanço que fazemos da atividade da FBP também interfere na proposta organizativa.

O dado mais marcante é que foi difícil forjar unidade tática na Frente Brasil Popular.

Nem sempre tivemos claro a necessidade de unir todas as forças democráticas do povo brasileiro. Precisamos conjugar mais fortemente o verbo ampliar e não o verbo demarcar. Quanto mais amplas as forças se unem, mais o programa é mínimo. A bandeira hoje é da defesa da democracia e do Estado de direito. A crise não será resolvida sem o povo eleger um novo presidente.

A Frente Brasil Popular acerta ao priorizar a mobilização política do povo brasileiro, isso é fator decisivo. Mas isso implica também o esforço é o de unir em torno dessa bandeira, desse tom – como na época da ditadura: Diretas já, fim do estado de exceção, Constituinte – a maioria da sociedade brasileira, as forças vitais dos trabalhadores, da juventude e das mulheres, com largos estratos democráticos, patrióticos e progressistas em geral.

Devemos falar à sociedade, não só aos nossos. Oferecendo não só denúncias, mas bandeiras de esperança. Adotando formas de luta que ampliem, que falem, que alcancem contingentes maiores. Manifestações de rua não são a única forma de fazer a luta. É preciso trabalho permanente, agenda nas fábricas e bairros, nos núcleos ativos da luta juvenil etc.

O caráter da Frente Brasil Popular está sendo definido. Temos um programa da primeira Conferência, com caráter de massas, mobilizador, que visa aglutinar forças as forças populares.

Não somos partido, somos uma frente de ação de massas.

Mas precisamos de resolver o problema principal: unidade tática. As classes dominantes brasileiras são reacionárias e cruéis, mas muito sagazes. Precisamos avançar na unidade tática, e para isso encontrar melhor forma de deliberações.

Nossas plenárias podem ser mais amplas, e dialogar com as elaborações das organizações, construindo sínteses.

Precisamos promover debates em todo país, alimentar politicamente as bases. Aprimorar nossas publicações. É estimulando o debate que conseguiremos avançar na unidade de ação.

O denominador comum é um regime de direção superior, que aprimore a construção do consenso e o respeito ao dissenso. Horizontalidade, pluralidade e democracia, relevando o regime de direção nacional.

Concomitante à luta de resistência devemos abrir espaço para o debate da perspectiva. Precisamos elaborar uma nova síntese programática, para termos programa pensando em retomar o diálogo amplo com a sociedade, mostrar caminhos de superar os problemas que o povo vive. Precisamos ouvir muito, para que sejamos ouvidos, com sentido autocrítico.

Desenvolver os esforços e organizar em torno dessa síntese programática uma organização frentista que pode até, quem sabe, disputar eleitoralmente. Cada força continuará autônoma, mas compartindo um programa comum.

A Frente Brasil Popular é parte integrante desse esforço que deve envolver partidos políticos, organizações sociais, personalidades e lideranças intelectuais e culturais, etc.

Uns a chamam de Frente Amplo em alusão ao Uruguai, outros de Concertação, bloco de afinidade, Frente de Esquerda Progressista. Eu uso um paralelo histórico: uma grande aliança nacional libertadora rediviva para os tempos contemporâneos.

Essa síntese tem um foco, um projeto nacional, popular e democrático. O projeto nacional de desenvolvimento, compreendendo reformas estruturais para avançar, é a liga dos interesses democráticos e populares. Só nossas reinvindicações e bandeiras não constroem o projeto de nação, e sem um projeto de desenvolvimento nacional não há como atender às demandas sociais. Um desenvolvimento soberano, de integração com nossos vizinhos, respeitador do meio ambiente, assentado numa democracia popular.

O mundo vive o avanço do conservadorismo. A direita e extrema direita empalma a bandeira nacional pelo lado xenófobo e protecionista.

Esse projeto nacional envolve alianças não só à esquerda. Temos que a base dessa síntese programática é uma pactuação entre a produção e o trabalho. Essa é a base da aliança.

É possível incluir entre as bandeiras a Constituinte, com cuidado, porém, de ver o melhor momento. A propaganda sobre isso hoje, pode enfraquecer nossa bandeira de defesa da Constituição de 1988.

Temos que tirar lições do que passou. O erro não foi fazer alianças – o projeto não pode ser só para a esquerda. O erro foi não ter um núcleo de esquerda programático governando as alianças.

No Brasil, a unidade é a bandeira da esperança – unidade do patriotismo popular com a defesa da democracia.

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Foto: FBP

Fonte: Frente Brasil Popular

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