Quando se deixa de lado o jornalismo!

Se o dono do jornal está de bronca com o governador, resolvam entre vocês, não tentem nos usar! Não somos pautados pelos interesses dos donos dos meios de comunicação!

Tenho 21 anos de magistério na rede pública. Mesmo tempo dedicado à militância na área da educação e de lutas populares. Os mais recentes desafios que aceitei foram quando assumi a coordenação geral do Sind-UTE MG e depois a presidência da Centra Única dos Trabalhadores/as. Neste caso foi a primeira vez que uma mulher e professora assumiu este cargo no Estado! Encaro a representação de forma comprometida e coletiva com aqueles que represento, com o coletivo que faço parte. Estar nestes dois espaços de representação tem visibilidade e responsabilidades, mas também nos joga numa arena da política suja que não queremos estar!

Em julho deste ano, sem que eu sequer fosse consultada, o Jornal O Tempo utilizou indevidamente o meu nome e publicou no “A parte” que eu estaria disputando internamente ser candidata a deputada federal. Quem escreveu a bobagem sequer se deu ao trabalho de perguntar se era verdade. Não era e não é! Nunca disputei indicação nem pretendo ser candidata a deputada federal. O Jornal faltou com a verdade com seus leitores. Uma ligação ou whatsApp teria evitado a mentira!

Nesta quarta-feira, dia 30 de agosto, eu fui alvo de outra matéria, página inteira, com direito a foto selecionada, frases reproduzidas que foram descontextualizados por serem ditas em outras ocasiões e um posicionamento político do jornal de crítica ao sindicato. Que qualquer jornal fale o que quiser, já estou acostumada! Mas quando ao expor uma pessoa, não lhe dá direito ao contraditório, de dizer a sua versão, fica nítido que os interesses políticos vão além do jornalismo. Ainda estou tentando decifrar o que motivou a matéria que é inequivocamente encomendada para a desconstrução de imagem e de ataque. Pode ter sido em represália à manifestação que o Sind-UTE realizou em Betim no dia 24 de agosto; enfim, podem ter várias motivações desta arena política suja!

A matéria é uma crítica ao sindicato por ser “light”, por não fazer as mesmas greves que foram feitas durante os governos no PSDB. Inacreditável um Jornal achar que tem o direito de pautar a atuação do movimento sindical! Mas entrando no conteúdo, cujo direito o Jornal e a jornalista que assina a matéria não me possibilitaram, esta comparação é impossível de ser feita! Os governos do PSDB desconheciam a Lei do Piso, pregavam a proporcionalidade, não reconheciam os reajustes anunciados pelo MEC, descumpriam integralmente os acordos assinados, congelou a carreira por 5 anos, zerou o tempo de serviço para progressões, processou mais de 100 lideranças, ajuizou 25 processos contra a entidade! Não há comparação possível. A greve de 30 dias em 2008, a greve de 47 dias em 2010 e a greve de 2011 que durou 112 dias tiveram como único objetivo que o Estado de Minas Gerais reconhecesse a Lei do Piso e a aplicasse em Minas Gerais. Em 2015, conquistamos a Lei Estadual 21.710/15 que reconheceu integramente tudo pelo qual  lutamos desde 2008.

Faltou honestidade ao Jornal ao desconsiderar tudo o que já conquistamos. Quando o PSDB deixou o governo de Minas, uma professora recebia de subsídio R$1.236,00. No próximo pagamento de setembro de 2017 receberá R$ 1.982,00 de vencimento básico além do abono de R$ 150,00 e 5% do seu salário! Façam as contas! Me diga quem teve este patamar de conquista? Em dezembro de 2014 somente 27% da categoria era efetiva! Conquistamos mais de 50 mil nomeações em menos de três anos! O jornal também ignorou 25 dias de greve que fizemos este ano tendo pauta estadual além da luta contra a reforma da Previdência! Acabamos de conquistar uma lei que ampara o profissional vítima da violência no ambiente escolar, fato inédito no país. O jornal trata greve como um fim em si que supostamente mediria a combatividade da entidade! Erra até nisso! Greve é um instrumento de pressão, decidido não por mim, ou por uma direção, mas por uma categoria em assembleia.

O título da capa é outra mentira, induzindo as pessoas a acharem que nada foi conquistado, Como a jornalista sequer teve o trabalho de fazer uma pesquisa prévia antes de escrever a matéria, vou ajudá-la:

1) em 2015 conquistamos 13,06%;
2) em 2016 conquistamos 11,36% + 8,21%;
3) em 2017 conquistamos 7,74%;
4) estão pendentes o reajuste do Piso salarial de 2017 de 7,64%, retroativos do Adicional de valorização.
5) temos várias outras reivindicações que estão pendentes e estamos trabalhando na pressão pelo atendimento!

Mas fiquei com uma dúvida: a nossa manifestação realizada no dia 24 de agosto em Betim foi noticiada pelo Jornal?

O que percebo cada vez mais é que precisam diminuir o tamanho da nossa força, da nossa capacidade de resistência como a que estamos fazendo contra a reforma da Previdência. Mas fundamentalmente querem nos jogar numa arena de terra arrasada como se não conquistássemos nada. Se o dono do jornal está de bronca com o governador, resolvam entre vocês, não tentem nos usar! Não somos pautados pelos interesses dos donos dos meios de comunicação!

A criminalização que a matéria faz com meu nome como se eu não pudesse ter posição, filiação partidária, foi a mesma que o PSDB fez em 2014. Trabalhador e trabalhadora não podem exercer seus direitos políticos, previstos na Constituição. O nome desta prática é fascismo!

Escrito por: Beatriz Cerqueira, presidenta da CUT/MG e coordenadora-geral do Sind-UTE/MG

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