Notícias

Se os bancários tiverem sucesso, todo mundo sai ganhando

  • 30/09/2015


O presidente da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro), Roberto Von der Osten, lembra que os bancos interferem diretamente na vida de todos.

 

Para Beto, como é conhecido, os bancos são “fábricas de infelicidades”. Entre outras razões, porque faltam trabalhadores e trabalhadoras em número suficiente para atender com rapidez e qualidade os seus clientes. Quem precisa usar banco – “é como ir ao dentista”, ruim mas necessário – trabalha para o banqueiro e ainda paga.

Por isso, na campanha salarial deste ano, uma das principais reivindicações é pela contratação de mais pessoas.

 

A produção de infelicidades passa também pelo adoecimento dos que trabalham no setor, submetidos a metas de vendas mensais cada vez mais irracionais. Daí porque outra das reivindicações da campanha de 2015 é o estabelecimento de metas exequíveis, debatidas com os trabalhadores, e adaptadas a condições regionais e sazonais.

Por fim, na raiz de todos os males, estão os lucros cada vez mais altos dos bancos e os juros cada vez mais estratosféricos, que interferem na economia do País como um todo. Portanto, segundo a Contraf-CUT, um aumento salarial de 16% pode ajudar a diminuir um pouco esse descompasso e ainda a aquecer a economia.

 

Nesta sexta, 25 de setembro, está prevista uma nova rodada de negociação com a federação nacional dos bancos, na capital paulista. Os banqueiros devem apresentar sua contraproposta. “Se conseguirmos alguns êxitos em nossa campanha, tenho certeza, vai ser bom pra todo mundo”, declara.

 

Beto, vocês estão reivindicando 16% de aumento salarial. É a inflação mais 5,7%. Todos estão dizendo que o Brasil está em crise, que está faltando dinheiro. Não seria a hora de ser mais tímido na reivindicação salarial?

Veja bem, nós não estamos fazendo uma reivindicação salarial para um setor em crise. Nós estamos tratando com banqueiros, que tiveram lucro fantástico, crescimento fantástico, em relação ao ano anterior. Então, é um setor que pode tranquilamente atender o que nós estamos reivindicando. Não há nenhum problema. Achamos até que se der aumento real, você distribui mais dinheiro para os bancários e bancárias comprarem no mercado. Isso aquece a economia e ajuda o Brasil a reencontrar o caminho do desenvolvimento e do crescimento. Não há nenhuma pedida que seja exagerada ou desmedida.

 

Outra reivindicação que chama a atenção é de que os bancos contratem mais trabalhadores e trabalhadoras. De fato, quem usa banco percebe que faltam funcionários, que o atendimento é demorado. O que os bancos têm respondido sobre isso?

Os bancos têm respondido que não é verdade, apesar de toda a experiência do cliente dizer isso. Tem pesquisa, inclusive, que mostra que as pessoas consideram uma ida ao banco uma coisa tão desagradável, porém necessária, como uma ida ao dentista. As pessoas vão porque precisam. Você pode notar que, em alguns casos, em agências de grande porte, há dois caixas atendendo forma uma fila imensa, que vai serpenteando por toda a agência. Por que isso? Porque falta pessoal. Então estamos propondo isso, e eles dizem que estamos querendo interferir no negócio deles, e não nos respondem conclusivamente. A gente acha que eles (os bancos) têm responsabilidade social, responsabilidade com os clientes, e precisam empregar mais gente. Eles ganham muito dinheiro, inclusive cobrando tarifas – as tarifas cobrem suas folhas de pagamento com folga. Então, banco pode e deve contratar. Deve ter responsabilidade com o mercado de trabalho.

 

Imagino que os bancos devem dizer que têm investido muito em tecnologia, e que as pessoas podem pagar contas através do celular, e usar os terminais espalhados pelas cidades. Isso não dispensaria a necessidade de mais funcionários ou você acredita que as duas coisas têm de acontecer juntas?

Os bancos, sem sombra de dúvida, se apropriaram disso (as novas tecnologias) e a gente pensa: “Mas as máquinas não eram para nos trazer mais felicidade, não era para reduzir a nossa jornada de trabalho?” Já que as máquinas fazem tanto – e nós bancários reivindicamos e a CUT historicamente reivindica redução de jornada sem redução de salário – nós achamos que a tecnologia deveria servir a humanidade, inclusive fazendo haver um superávit de tempo para que eu possa conviver com a minha família, com meus amigos, viver minha vida. A passagem das pessoas pela vida é uma passagem de trabalho. Não é uma passagem de lazer, de felicidade. O que sabemos é que a reestruturação produtiva atinge todos os setores. Mas o que será quando todos os produtos e os processos forem feitos por máquinas? Quem vai comprar o produto das máquinas? De onde virá a renda das pessoas?

 

 Até porque nem todo o mundo tem intimidade com o universo digital. Um idoso, uma dona de casa, às vezes precisa de ajuda. E há informações que máquina alguma pode dar.

Hoje já existem agências sem nenhum ser humano lá dentro. Só máquina. Você mesmo tem de fazer tudo. Você trabalha para o banco, você paga tarifa. E se cometer algum erro, como pagar uma conta duplicada, tem uma dificuldade terrível para consertar depois.

 

Se a ida aos bancos é vista pela maioria como uma coisa ruim, o que fazer para que a população, quando os bancários fazem greve, apoie a greve?

Tradicionalmente, em nossas campanhas salariais, nós dialogamos com o banqueiro, para que aceite nossas proposições, mas falamos com a população também. Nós falamos – e os banqueiros odeiam isso – da taxa de juros, dos juros do cheque, do cartão de crédito, o quanto os bancos ganham aplicando o dinheiro do cliente. Nós distribuímos materiais, entregamos o “Jornal do Cliente”, onde informamos essas coisas. E o cliente percebe claramente que ele paga até para respirar dentro das agências. Ele percebe que está trabalhando para o banqueiro e ainda está pagando por isso.

 

A campanha deste ano está reivindicando também que as metas que são impostas aos funcionários dos bancos sejam revistas.  Explique um pouco isso.

O cliente percebe isso porque vai até o banco, vai fazer um pedido, e é oferecida outra coisa. “Olha, fica mais fácil você conseguir isso se você levar um daquilo também”. O que nem todos sabem é que para cada trabalhador e trabalhadora dos bancos é colocada uma meta mensal de produtos que precisa ser vendida à clientela que entra na agência. Se eu atinjo a meta, eu participo de um programa interno do banco de remuneração variável. Se eu não conseguir completar minha meta, eu sou acusado pelo banco de ser um trabalhador de baixa produtividade. Então, todo dia, o trabalhador e a trabalhadora chega de manhãzinha no banco já preocupado se vai conseguir vender ou não. O produto final disso é que os bancários e as bancárias estão adoecendo muito. Além das doenças por esforços repetitivos, hoje são acometidos, mais do que qualquer outra categoria, por transtorno mental. Depressão, tristeza, síndromes. São coisas que obrigam as pessoas a trabalhar tomando remédio de tarja preta, muitas vezes ocultando do banco, por medo de ser demitido. Deprimido, fica com ainda mais dificuldade de atingir suas metas.

 

Você diria que os bancos são fábricas de tristeza?

Os bancos, de uma maneira generalizada, não podem mais negar essa realidade. Nós montamos um grupo de trabalho, como conquista de campanha salarial passada, para analisar a causa do adoecimento no interior dos bancos. E o Dieese montou toda uma pesquisa, e ficou muito claro que as pessoas que estão nas agências, submetidas às metas, adoecem. Porque os bancos trabalham de uma forma curiosa: se uma pessoa ou um grupo consegue atingir as metas, o banco conclui que era porque estava muito mole. Essa meta era fácil demais. Eles vão apertando o torniquete cada vez mais. O cara que no primeiro mês conseguiu atingir a meta, sai de lá feliz, vai encontrar os amigos, conversou, riu. Com o tempo, esse sujeito encontra os amigos e começa a oferecer seguro, vira aquele cara chato, que quer vender toda hora. Os bancos não conseguem perceber que aqueles que conseguem ganhar a medalhinha no final do mês, adoeceram. Ele gastou toda a sua felicidade, deixou de conversar, deixou de namorar, deixou de passear, não foi ao futebol, não foi ao cinema, só pra ficar atrás da meta. Então, é uma fábrica de infelicidade, completamente.

 

Gostaria que você completasse dizendo como acredita que a campanha salarial dos bancários pode beneficiar todo mundo, pode beneficiar o País, especialmente neste momento de dificuldades?

Em primeiro lugar, se tivermos uma campanha exitosa nessa questão da saúde dos bancários e bancárias, teremos um ganho geral. Pois as pessoas que adoecem vão parar na saúde pública. Então, já seria um ganho, pois sobraria dinheiro para atender outras pessoas. Então já seria uma conquista para felicidade e saúde dos bancários e bancárias, mas também para toda a sociedade. Se a gente tiver êxito na questão do emprego, nós ajudamos um País que está em crise política que está virando crise econômica, porque não vamos deixar desempregar pessoas e impedir assim que cheguemos numa situação ruim como a de alguns países na Europa, por exemplo. Se conseguirmos o reajuste, nós colocaremos muito dinheiro no mercado. Vamos ajudar na retomada do crescimento da economia. Então, se conseguirmos alguns êxitos em nossa campanha, tenho certeza, vai ser bom pra todo mundo. Nós vamos cobrar dos banqueiros a responsabilidade social. Além de responsabilidade, eles têm de ter coerência com o momento que estão vivendo. É um momento de muitos lucros. Temos confiança que os banqueiros farão uma boa proposta e não entraremos em conflito. O movimento sindical não vive da apologia da greve. Vivemos da construção dos direitos e da felicidade das famílias dos trabalhadores e trabalhadoras.

 

(Site CUT Nacional – Isaías Dalle – 24/09/15)



Multimídia


Newsletter Sind-UTE/MG


    Informativo Ver todas


    Informativo Especial de Greve - A luta sempre vale a pena
    6/4/2022 - Informa Especial de Greve
    Informativo Especial de Greve
    Especial Jurídico
    188
    187
    186
    185
    184

    Cadastre-se aqui!

    img

    Links



    Opinião

    Todos artigos