Stedile conclama as mobilizações de rua contra o retrocesso

Líder do MST propõe grandes atos de massa para Agenda de Lutas na Plenária dos Movimentos Sociais em Belo Horizonte

Dirigentes da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), dos sindicatos, movimentos populares e organizações de juventude lotaram o auditório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MG), em Belo Horizonte, na noite da última quarta-feira (1º), na Plenária dos Movimentos Sociais. Eles foram conclamados por João Pedro Stedile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) a “botar o povo nas ruas para conseguir o ascenso da classe trabalhadora”. “Nossa prioridade, nesta conjuntura dinâmica e complexa, é trabalhar com a classe trabalhadora e a juventude, setores que vão definir a luta de classes no Brasil”, afirmou Stedile.

A Plenária faz parte da Agenda de Lutas dos movimentos sindical e sociais de Minas Gerais e teve a coordenação da presidenta da CUT/MG, Beatriz Cerqueira, e do coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Joceli Andrioli. A atividade também serviu para articular os próximos atos e mobilizações da agenda, que continuam nesta terça-feira (7), com o Dia Nacional de Lutas, com concentração às 16 horas na Praça Afonso Arinos, em frente à Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no Centro de Belo Horizonte

João Pedro Stedile empolgou a militância ao conclamar a continuidade das lutas das forças progressistas em defesa da democracia, de acordo com relatos dos participantes, a partir de uma plataforma que congrega cobranças ao governo Dilma e o enfrentamento à ofensiva dos setores conservadores.

Assim, ele demarcou com a linha de Lula, que colocou a centralidade na defesa intransigente do governo Dilma, frustrando a militância. Stedile disse em alto e bom som: “Não podemos ficar ao lado do ajuste fiscal. Nosso compromisso é com o povo”.

A plataforma para as lutas sociais apresentada pelo dirigente do MST tem a defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores, contra as medidas provisórias com cortes de direitos do governo e o projeto da terceirização em discussão no Congresso; a defesa da Petrobras como guardiã do petróleo e motor para o desenvolvimento com soberania nacional; a reforma tributária com taxação de grandes fortunas e a democratização dos meios de comunicação e da política, que aponte para a convocação de uma Constituinte.

Essa linha conjuga a pressão sobre o governo ao enfrentamento aos inimigos das mudanças sociais, como os agentes neoliberais que conspiram para diminuir o papel do Estado na economia, o sistema político que quer mutilar o governo, os empresários que atuam para flexibilizar a legislação trabalhista, as petroleiras estrangeiras com interesse em explorar o pré-sal, os milionários que não querem pagar impostos e a oligarquia que controla o Congresso Nacional e as redes de TV/rádio.

O contraste dos discursos de Lula e Stedile expressa diferentes perspectivas para encarar a ofensiva da direita. Lula parte da leitura de que o governo e apenas o governo, com sua estrutura, instrumentos, ritmo e limites, pode garantir a continuidade do projeto que começou em 2003.

Assim, o ex-presidente coloca a centralidade na institucionalidade, para fazer o governo funcionar, reorganizar a base parlamentar, tendo como sustentação as organizações fiéis ao PT e os segmentos desorganizados. Para Stedile, esse projeto já bateu no teto com a crise econômica e as contradições do sistema político e, apenas com a mobilização dos setores progressistas e medidas concretas do governo, será possível impedir um retrocesso.

Por isso, ele propõe tirar o centro de gravidade do enfrentamento da institucionalidade, com uma pauta mais avançada de reformas estruturais, para congregar os setores críticos que se uniram no 2º turno da eleição presidencial e catalisar a crescente insatisfação na sociedade, ampliando a capacidade de luta por medidas do governo que alterem a correlação de forças.

No discurso em Minas, Stedile disse que entende que Lula tem dificuldades para expressar qualquer contrariedade às políticas do governo, para não enfraquecer a presidente Dilma em um momento complexo. No entanto, pontuou que os sindicatos, movimentos e entidades de juventude não podem se orientar exclusivamente pela dinâmica da institucionalidade.

O dirigente do MST afirmou que as forças progressistas perderão de W.O. se não fizeram os enfrentamentos políticos e ideológicos na sociedade, com mobilizações de massa. Nesse sentido, defende que é hora da esquerda pisar no acelerador, massificar as manifestações agendadas para o dia 7 de abril, cobrando mudanças na política econômica do governo, com a revogação das MPs, e enfrentando a ofensiva da direita em todos os campos.

“Não podemos nos ausentar das ruas. Quem não entra em campo está desmoralizado. A luta de classes permeia todos os espaços sociais. As ruas serão fundamentais para fortalecer o pacto da unidade, que em Minas Gerais contribuiu para a derrota do neoliberalismo, tanto nas eleições para o governo do Estado quanto para o governo federal. Nossos verdadeiros inimigos são a Globo, o agronegócio, o capital financeiro e as multinacionais. Vivemos um grande ano de debates e de avanço na luta de classes”, disse Stedile.

Dentro do arco de forças sociais que construiu a jornada do dia 13 de março, há compreensões distintas da forma de atuar diante de um governo que adota políticas neoliberais, em um quadro de ofensiva dos setores conservadores no Congresso, no Poder Judiciário, nos meios de comunicação e nas ruas.

Os discursos de Stedile, em Minas, e do presidente da CUT, Vagner Freitas, em São Paulo, demonstraram a disposição de ir para a ofensiva, sem admitir a perda de direitos nem o golpismo dos setores conservadores. Caberá aos dirigentes das forças populares em todo o país definir a estratégia. “Só vamos construir a nossa estratégia no calor das lutas”, afirmou.

No entanto, a decepção com as medidas do governo e a frustração com o discurso de Lula apontam que, depois de 12 anos, a militância das organizações de esquerda quer ser protagonista na disputa política no país.

João Pedro Stedile também conclamou a todos os participantes da Plenária dos Movimentos Sociais a construir no dia 21 de abril um grande ato nacional. “Vamos fazer um grande ato de massas, de rebeldia, em defesa da democracia. Fazer um 21 de abril vermelho.”

Antes do encerramento da Plenária, a presidenta da CUT/MG, Beatriz Cerqueira, realizou uma homenagem a Manoel Ramos de Souza, o Bahia, líder da Ocupação Vitória, espancado até a morte por dois homens no dia 31 de março. Os assassinos pretendiam transformar a ocupação em negócio. Beatriz pediu e todos bateram palmas para Bahia.

A Agenda de Lutas prossegue nesta terça-feira (7), Dia Nacional de Luta, acontecerá na capital mineira e em todo o país um ato em favor da Constituinte Exclusiva pela Reforma Política e contra o projeto de lei 4.330, que torna a terceirização sem limites, e em defesa da Petrobras. A concentração começará às 16 horas na Praça Afonso Arinos, em frente à Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Está previsto que, no dia 7 de abril, o PL 4.330 entre na pauta no Congresso Nacional.

Entre os dias 10 e 12 de abril, acontece em Belo Horizonte o 2° Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação. No dia 21 de abril, feriado em homenagem a Tiradentes, mobilização e ato público serão em Ouro Preto. Entre os dias 30 de abril e 2 de maio, o 6° Encontro Estadual dos Movimentos Sociais vai ser realizado na Praça da Assembleia Legislativa.

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