Trabalhadores em educação de Minas Gerais realizaram grande mobilização na ALMG

Autoritarismo e intransigência do presidente da Comissão de Educação da ALMG invibilizou a realização da Audiência Pública

A “Casa do Povo” deu mais uma vez exemplo de que, quando o povo se apodera dela, não é bem recebido. Foi essa a cena protagonizada nessa quarta-feira, (19/04), durante audiência pública que seria na Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a requerimento dos deputados Rogério Correia e Maria Tereza Lara (PT).

A audiência estava programada para as 16 horas, no Plenarinho IV, mas foi suspensa por quase uma hora devido às discussões sobre a mudança de local. O espaço destinado aos educadores foi pequeno demais, já que centenas de pessoas, vindas em caravanas, de várias cidades do interior do Estado, lotaram o espaço reservado ao público no Plenarinho IV e também no Salão de Chá.

Os trabalhadores em educação queriam participar das discussões, conforme é a prerrogativa de uma audiência pública. Mas, o espaço não cabia todo mundo e, em face disso, todos pediam a transferência da reunião para o plenário da ALMG, um local bem mais amplo e apropriado ao debate. Vale ressaltar que tanto o plenário quanto o auditório estavam vazios e também que o Plenarinho IV onde a audiência acontecia era blindado com vidros para separar o público dos parlamentares. O ambiente, portanto, não tinha condições técnicas e de infraestrutura capazes de proporcionar aos educadores  acústica ideal dos trabalhos conduzidos pela presidência da Comissão e os participantes do encontro.

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Trabalhadores em educação lotam o Salão do Chá na ALMG (19/03/2014)

O presidente da Comissão, deputado Duarte Bechir (PSD), não aceitou os argumentos dos colegas, muito menos quis ouvir a voz dos manifestantes. Negou-se a fazer a transferência do espaço. Os deputados Rogério Correia, Elismar Prado (PT) e Liza Prado (PROS) defenderam a mudança para o Plenário, mas não foram ouvidos. A audiência foi encerrada por Bechir sem que as reivindicações de diretores e educadores da rede estadual de ensino fossem discutidas.

Objetivos da Audiência – No requerimento ao qual foi anexada a carta da Associação de Diretores de Escolas Oficiais do Estado de Minas Gerais (Adeomg), o texto dizia que o objetivo da audiência era discutir a revisão do Decreto 46.206, de 2013, e a situação do diretor de escola no tocante à responsabilidade que o cargo impõe, à carga horária excessiva, à instabilidade no exercício do cargo e à insegurança em razão da violência nas escolas.

Pelo documento, outros pontos seriam ainda debatidos, tais como: a falta de recursos humanos capacitados para o trabalho nas instituições de ensino, a proibição de merenda para esses servidores, a falta de diálogo entre a Secretaria de Estado de Educação e os diretores para definição das políticas educacionais, a desvalorização desse servidor em relação à questão salarial, a exclusão da categoria quanto à concessão de reajustes e os salários praticados pelo Estado.

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Cartaz denúncia (19/03/2014)

Os trabalhadores em educação lutam pelo pagamento do Piso Salarial Profissional Nacional, uma vez que aqui paga-se subsídio e não o Piso. Além disso, os reajustes do Piso Salarial dos últimos anos não foram aplicados. Outra demanda importante é o descongelamento da carreira, que desde novembro de 2011 está congelada. Questões pedagógicas importantes também mobilizam categoria e a comunidade escolar como o retorno dos professores da Educação Física e Ensino Religioso, autonomia das escolas, resolução dos problemas com o Reinventando o Ensino Médio.

Debate público – Uma nova data para um debate público foi marcada para o dia 11 de abril próximo, provavelmente no âmbito da Comissão de Administração Pública, desta vez no Plenário da ALMG

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Educadores durante lançamento Caderno Pedagógico 2 (19/03/2014)

No auditório – Mesmo após o encerramento forçado da audiência pública pelo presidente da Comissão de Educação, os educadores se mantiveram concentrados nos corredores e no Auditório da ALMG até às 20 h:30min para uma outra atividade agendada – o lançamento do Caderno Pedagógico 2.

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Mesa dos trabalhos de lançamento do Caderno Pedagógico na ALMG (19/03/2014)

Em falas breves, episódio da tarde foi contextualizado. A coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), Beatriz Cerqueira e a presidente da Associação dos Diretores das Escolas Oficiais de Minas Gerais (Adeomg), Ana Maria Belo de Abreu, compuseram a mesa.  A reunião foi conduzida pelos deputados Rogério Correia e Liza Prado, que resgataram a presença dos trabalhadores em educação e citaram as cidades que se fizeram presentes no Legislativo Estadual. Definiram uma nova data para promover o debate público, que será dia 11 de abril, das 14h às 18h, desta vez no Plenário da ALMG.

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Beatriz Cerqueira durante lançamento do Caderno Pedagógico. Ao lado, deputado Rogério Correia (19/03/2014)

Ana Maria destacou a importância da audiência em conjunto. “Apesar de questões distintas, temos que trabalhar juntos para nos fortalecermos. A Secretaria de Estado da Educação tem que nos ouvir e responder e, para isso, conto com cada um de vocês para este trabalho de união.”

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Presidente da Adeomg, Ana Maria Belo de Abreu, diz que Secretaria de Educação precisa ouvir a categoria (19/03/2014)

Por sua vez, Beatriz Cerqueira, ressaltou: “hoje foi um dia muito importante. Primeiro porque nossa reação foi fundamental e demarcamos que não é mais possível nos subjugar em qualquer espaço desta Casa e que não mais aceitamos ser submetidos a este tipo de situação, desrespeitosa. Somos fortes e exigimos respeito. Outro fator fundamental é a unidade com a Adeomg. Sabemos que os diretores estão sendo exonerados simplesmente porque questionam atitudes do governo. Precisamos sim nos unir, pois, o isolamento só interessa ao governo“.

Também lamentou o fato dos educadores terem sidos barrados da discussão e disse que mais uma vez a categoria teve evidências do quanto esse governo desrespeita a educação. “Com a atitude de hoje, essa Comissão nos mostra que tem medo de fazer o debate com a categoria, uma base formada, na sua maioria, por mulheres, que querem apenas o direito de trabalhar dignamente e serem valorizadas por isso. Muitas pessoas aqui viajaram de ônibus 12 horas para participar, democraticamente dessa audiência e foram impedidas, relegadas a ficar atrás de vidros e muralhas”, afirmou. Lançamento do Caderno Pedagógico 2

Na sequência, aconteceu o lançamento do Caderno Pedagógico 2. A diretora do Sind-UTE/MG, Mônica Maria de Souza, do departamento de Formação Pedagógica e Sindical, responsável pela publicação informou que o Sindicato acaba de ganhar o prêmio de digitalização de acervo histórico, organizado pelo Ministério da Cultura, com apoio da Petrobrás, em uma forte concorrência em âmbito nacional.

Sobre o Caderno Pedagógico, reafirmou a proposta do Sindicato. “Nos nossos 35 anos de existência, sempre defendemos uma educação pública de qualidade. O Caderno tem por missão confirmar que é possível informar e formar opinião, fazendo o contraponto da pedagogia midiática, que é a única que o Governo valoriza”, rechaçou.

Mônica Souza também criticou o Reinventando o Ensino Médio, que no seu entender tem prejudicado toda a sociedade escolar. “A qualidade da educação em Minas Gerais só se encontra na mídia. Logo após, leu alguns trechos dos textos publicados no Caderno Pedagógico e concluiu chamando todos os educadores os para permanecerem na luta.

Participaram ainda do debate a educadora Renata Campos de Miranda e o diretor da Associação Metropolitana de Estudantes Secundaristas da Grande Belo Horizonte (Ames-BH), Bruno Duarte.

Estado de violência – Renata Miranda lembrou que a greve de 2011 ganhou de presente à época – uma charge de Carlos Latuf, que retratou a dor e o sentimento vivenciados pela categoria,  e o episódio de tensão e violência vivenciados por eles nessa tarde na ALMG. Também criticou o Reinventando o Ensino Médio. “O Programa é uma falácia, pois anuncia que está formando técnicos em Tecnologia da Informação e Turismo, por exemplo, mas sabemos que isto não é verdade. Trata-se do resultado de um trabalho da SEE, que não ouviu a comunidade escolar. Agiu, mais uma vez, de forma autoritária. Ao contrário, acusamos muitos problemas nas escolas como a ausência de laboratório de informática e a dispensa, em especial, aos alunos que residem nas zonas rurais do 6º horário.”

Revolução na educação – O estudante e representante da Ames-BH, Bruno Duarte, reforçou o problema da falta de merenda para os alunos, que tiveram o horário esticado com mais uma aula. “Este é apenas um dos muitos problemas do Programa. Conclamo vocês a dar um basta no descaso do governo para com a educação. Esta pode ser a gota d’água e, a partir de agora, realizarmos a revolução na educação em Minas Gerais e por fim à era tucana no Estado.” Ele informou que o Movimento Estudantil fará um ato na próxima quinta-feira (27/03), na Praça Sete, em Belo Horizonte, a partir das 9h, e os temas centrais serão o Reinventando o Ensino Médio, os 50 anos da ditadura militar no Brasil e a exigência do passe estudantil.  Outras ações serão a elaboração de vídeos e o lançamento dos mesmos na Internet, criticando o Programa, que serão distribuídos nas escolas. “Contem conosco para organizar atos e fortalecer a luta pela educação em Minas Gerais”, afirmou.

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