Desumanizando a Educação: governo de São Paulo quer  usar ChatGPT para a produção de aulas.

A aplicação da inteligência artificial na educação tem suscitado discussões intensas devido aos impactos negativos que podem surgir. Recentemente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, anunciou que irá adotar o uso do ChatGPT, um chatbot de IA, na produção de aulas digitais. A justificativa é que essa medida poderia auxiliar os professores da rede pública do estado. No entanto, é importante destacar que essa decisão ocorre em meio à tentativa de reduzir, por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição do Estado de São Paulo, 5% do investimento mínimo em Educação. Isso representaria a retirada de até 9,6 bilhões do orçamento da educação no estado, comprometendo assim todo o Ensino Público estadual e a valorização dos profissionais da área.

O uso da inteligência artificial para gerar conteúdo educacional levanta preocupações quanto à possível substituição do trabalho humano por máquinas, principalmente em um setor tão sensível como a rede de ensino pública. A dependência excessiva de tecnologias também pode agravar as disparidades educacionais já existentes. Além disso, no caso de aplicação inadequada, esta ferramenta limita a criatividade dos alunos e diminui a sua capacidade de pensamento crítico.

A imposição dessa tecnologia como ferramenta de produção de conteúdo para o ensino levanta diversos pontos de preocupação. Pense nesse contexto:

  1. Inicialmente, os professores elaboraram o conteúdo curricular, como slides, e o enviam  ao ChatGPT para a criação de novos slides;
  2. O ChatGPT fornece uma resposta;
  3. Os professores revisam o material gerado pela ferramenta e o disponibilizam para a rede de ensino;
  4. Os docentes utilizam esse material em suas aulas;
  5. Os alunos recorrem ao ChatGPT como suporte em trabalhos ou provas;
  6. Por fim, o sistema de inteligência artificial GPT (Generative Pre-trained Transformer) da OpenAI ficaria treinado. Professores e alunos estão submetidos ao sistema, comprometendo drasticamente o processo de ensino-aprendizagem, que se torna robotizado.

 

Essa sequência de eventos revela uma dinâmica alarmante sobre a autonomia dos educadores, a normalização do uso de tal ferramenta como parte da construção do conhecimento, além da qualidade do conteúdo gerado. A utilização da IA como mecanismo central no desenvolvimento dos materiais educacionais pode impactar negativamente a forma como o conhecimento é transmitido e assimilado pelos alunos, afetando a qualidade da educação e  negligenciando as especificidades do ensino na rede pública.

Como se não bastasse, a proposta apresentada pelo governador surgiu sem consulta aos profissionais da Educação e comunidade escolar, sendo uma abordagem unilateral do secretário de Educação, o empresário Renato Feder.

O projeto por trás desse uso de tecnologia seria “agilizar” a produção de material didático para os milhões de alunos da rede estadual paulista, visando melhorar os indicadores educacionais do estado.

Diante deste cenário, é fundamental considerar que a introdução da inteligência artificial na educação deve ser cuidadosamente planejada, levando em conta o papel essencial dos educadores especialistas e do trabalho humano no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, a valorização e o suporte aos profissionais da educação são fundamentais para garantir uma educação de qualidade e equitativa para todos os estudantes. Ainda neste processo, é essencial pensar em formação continuada, que faz parte de uma série de políticas de valorização dos profissionais docentes. A utilização de tecnologias deve ser complementar e não substitutiva à função dos professores.

A qualidade e a integridade do ensino não podem ser comprometidas em prol de soluções tecnológicas, e nem pela lógica de mercado que visa a produção rápida e mecânica de conteúdo, especialmente quando a decisão é tomada unilateralmente e sem o devido diálogo com os envolvidos no processo educacional. É essencial que as políticas educacionais sejam pautadas no respeito e na valorização dos profissionais da educação, buscando sempre o melhor para o desenvolvimento dos estudantes e da sociedade como um todo.

Além disso, a qualidade das aulas estará submetida a que parâmetros? Os mesmos dos livros digitais de Tarcísio e Feder, que “ensinavam” que a Lei Áurea foi assinada por D. Pedro? Não podemos permitir que robôs tirem os empregos dos(as) educadores(as)! Respeita o(a) professor(a), Tarcísio!

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1 Comentário. Deixe novo

  • Ronaldo Jose Simoes
    06/05/2024 14:20

    O homem criou o tempo para gerenciar o seu modo de vida e tornou-se escravo do tempo; o homem criou a moeda para facilitar suas trocas e tornou-se escravo do dinheiro; o homem criou a maquina e tem desenvolvido softwares que segundo consta deveriam criar qualidade de vida e tornar livre tempos para outras necessidades que poderiam faze-lo feliz ; é o homem esta se tornando escravo do tempo , da maquina , de softwares ; e necessariamente da minoria que é dona de tudo, que pena e a grande massa e seus lideres aceitam e defendem isso.

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